quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Ready... Fight!!!

Não sou de brigar. Nunca fui ou serei. Minha natureza me impede disso. Mas já me envolvi com brigas, evidentemente, bem “me envolvi” mesmo, já que sempre fui daqueles que entram (só) para separar os mais briguentos. Na turma dos pacifistas, costumava salvar os amigos encrencados, não raro, quando eles brigavam entre si. Resgatando os dois brigões numa tacada.


Lembro de um evento muito engraçado, até. Tenho um amigo, Pompeu, que é o inferno em pessoa quando resolve tirar alguém para Cristo. Ele é do tipo brincalhão, sabem, contudo, às vezes exagera tanto na tiração de sarro, tanto, que acaba até merecendo umas bordoadas de vez em quando. Num desses casos, na época de escola, o rapaz desajuizado pegou um colega, Edmo, como vítima do dia. Edmundo, coitado, costumava trabalhar como mecânico e... Às vezes, aquele borrão de graxa persistia mesmo depois de alguns banhos, entendem? Pompeu, perdendo o amigo e garantindo a piada, pegava no pé dizendo “Ed- O Imundo!”. Chegava a dar voltas na carteira do menino, cantando: “estou dando a volta ao imundo!”. Prometendo, especialmente: “dar um banho!” no “sugesmundo”.

Lógico, depois de horas da mesma ladainha desdenhosa, Edmo perdeu a paciência e começou a contra-atacar com o famoso: “te pego na saída”. Como pimenta nos olhos dos outros é refresco, a sala toda incentivava a brincadeira, pois, naquela altura, já estávamos corados de tanto dar risada da sacanagem alheia. Todavia, para garantir a saúde de nosso comediante preferido, fazíamos até discurso: “calma, se ele vier te bater nos te protegemos”. E assim ficou acertado... Pacto virtualmente inabalável. Quando o sinal tocou e a hora derradeira (enfim) se aproximou, rapidamente fizemos a escolta em torno do jurado de “morte”, afinal, seguíamos o mesmo caminho, acabava não sendo nenhum sacrifício acompanhá-lo até um ponto seguro. Assim, "O Imundo", ainda sofrendo com as piadinhas encardidas, partiu “pro ataque” em prol de cumprir sua ameaça.

Nessa hora, fiz o que havia sido combinado e na ânsia de proteger uma vida, me postei entre os desafetos, esbarrando em Edmundo, que caiu no chão desequilibrado pela minha proteção. Na hora, notei rapidamente ter sido o único da turva a se manifestar neste sentido, percebendo na seqüência que se tratava realmente de uma atitude isolada. Aquela história de “te protegemos” era mera cascata, o 'chato' do Pompeu merecia mesmo uns tabefes, na opinião dos presentes - os mesmos que já sofreram (em algum momento do passado) de seus rompantes encapetados. Sozinho, fiquei diante de um furioso algoz, sem a ajuda dos “traíras”, observando passivos o desenrolar da desconcertante batalha.

A revolta de Edmo - somada a surpresa de minha interpelação - fora tamanha, que seus chutes, transferidos contra mim após levantar-se do tombo, pareciam desprovidos de força, apenas arremessados aos céus em sua profunda ira - quase divina. Na hora, pensei “to ferrado”. Edmundo tinha o dobro de tamanho e/ou largura. Morreria com certeza. Isso se fossemos para o confronto físico. Evitei esta hipótese em prol de uma nova estratégia (em Grego strateegia, em Latim strategi, em Francês stratégie...): apelei para a psicologia inversa. Acuado, resolvi usar apenas os músculos do cérebro, agindo de forma totalmente inusitada... Rapidamente, puxei o camarada (com sangue nos olhos) para o canto e (logo) desferi (sem tempo de qualquer reação) um poderoso golpe - com minha língua afiada: “Ah... Você? Logo você??? Sujeito tão bem quisto, bem nutrido... Se importando com as piadas sem-graça deste otário?” Ou seja, menti - em parte - para inflar o ego do meu provável assassino.

Passei a dizer coisas elogiosas, do tipo, “você é melhor do que isso, nem devia se importar com esse lixo. Esperava essa reação de qualquer um, menos de você!”. Curioso, dizia estas coisas dando tapinhas nas costas do menino e ele automaticamente concordava com os adjetivos, sussurrando: “É verdade... É verdade...”. Minutos de prosa depois, já resignado, dobrei o sujeito ao ponto dele deixar a humilhação - execração pública - de lado e ir embora calmamente (acreditem), até se despedindo educadamente da ilustre platéia (cativa) do quebra-pau.

Só me esqueci do Pompeu neste ínterim, quando dei por mim, o malandro já havia desaparecido. Não totalmente. Por ironia do destino, passávamos naquele instante - naquela hora exatamente - pela casa dele, e o piadista aguardava no portão - de posse de uma mangueira! No que ele disse: “Não disse que te daria um banho?” Chuáááá... Foi água - gelada, suponho - pra cima do pobre Edmo. Aí a coisa complicou de vez. Edmundo perdeu o restante da razão. Tomado pelos (mais primitivos) instintos animais, partiu novamente para cima de Pompeu, protegido (felizmente) pelo portão. Este último levava pancadas e mais pancadas até o barulho chamar a atenção dos familiares da “vítima”.

Quando os mesmos surgiram se indagando: “o que está acontecendo?”, o violento (molhado) atacante retrucou: “É este... Este... Favelado!”. Seguro pelos avós, o pentelho virou macho instantaneamente, e bem ao estilo “me segura senão bato nele”, começou a gritar: “Ninguém me chama de favelado não!”. Quase que dizendo: “Me segura... Favelado não! Vamos, me segura, gente...”. Larguei mão. Podem se matar. Desisto. Fui embora almoçar. Não demorou pro Pompeu aparecer na porta da minha casa para agradecer - sinceramente - a providencial ajuda. Única.

Nos dias seguintes, os dois nem se olharam. Ufa... Entretanto, o tempo tratou de apagar o ocorrido e nenhuma rusga maior apareceu desde então. Os companheiros de classe até vieram me consolar: “Se o Pompeu apanhasse tudo bem, mas se acontecesse qualquer coisa com você nós iríamos intervir”. Sei. Percebi. Foi melhor assim - e prudente - ter resolvido a questão da minha maneira. Sem luta. Sem derramamento de sangue. Do Karlão, principalmente... Afinal, violência (realmente) não leva a nada. Nem a lugar algum.

Um comentário:

Carlos Frederico disse...

Totalmente Off-Topic

Eu só queria te dizer que adorei os desenhos lá no DevianArt. Coloca mais.

Forte abraço do Fred.