sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Historietas de Terror

Sabem, me lembro que costumava contar histórias de terror ao cair da noite. Pensando nisso agora, até parece algo bobo. E não seria errado imaginar assim. Ao mesmo tempo, não posso deixar de constatar que estes momentos (igualmente) são absurdamente nostálgicos. Reunia aquela roda de amigos e vários contos bizarros eram ditos, sejam eles verídicos ou puras sagas da carochinha. Dos que ouvi, acredito em uns e dou muita risada da esmagadora maioria, mas daqueles narrados por mim, pelo menos um posso jurar de pé junto e assegurar sua veracidade.


Foi assim, era domingo, aos poucos a rapaziada estava saindo de suas casas e se reunindo na rua - para aquele bate-papo básico. Eu tinha uns 9 anos de idade, meu irmão – que estava comigo e também foi testemunha do ocorrido – tinha uns 12. Conversa fiada era jogada fora até que notamos dois vizinhos sentados na varanda de sua respectiva casa. Se aproximamos para puxar nova conversa, só que para nossa surpresa os caras estavam apavorados – para dizer o mínimo. A mãe dos irmãos (pelo que sei) tinha saído cedo (ido a feira) e para evitar que os rebentos fugissem pra zoar na esquina, deixou o portão e os pobres garotos trancafiados. Brincadeiras apareceram aos montes sobre a lastimável aparência dos colegas em cárcere privado - que guardavam o jogo e não contavam por que diabos estavam parados ali. Num desabafo eles apelaram: “vocês não vão acreditar no que está acontecendo”, disseram.

“A casa está assombrada” foi o que revelaram na seqüência. Logicamente, todos nós pensamos em se tratar de uma brincadeira, mais uma peça pregada pelos moleques (a mãe deles, já acostumada com estas travessuras que o diga). Contudo, eles pareciam apavorados demais para sustentar tal mentira – tão bem. Ou se tratava de atores excepcionais ou algo de muito estranho estava mesmo acontecendo naquela residência. A primeira prova foi o rádio que permanecia ligado na cozinha. Até aquele ponto, nenhum dos meninos ousava em voltar pra dentro de casa, temerosos com algo. Segundo o relato, só de se aproximarem o velho “radinho” (aparentemente encapetado) aumentava ou diminuía o som – só de sacanagem. Isso aconteceu algumas vezes, em todas em que os dois prisioneiros se aproximavam da porta de entrada. Estranho, entretanto, suspeito. Poderia ser um defeito no aparelho. Continuamos incrédulos (embora estivesse me borrando de medo, no íntimo).

Para sorte ou azar da turma que se aglomerava na calçada, ao lado deste casarão “pseudo-fantasma” existia um terreno baldio que usávamos como campo de futebol. E como a casa fora construída em meio lote com um muro lateral razoavelmente baixo, dava para subir nele e olhar diretamente para o interior do casebre. E foi o que fizemos. Logo, tínhamos transformado o gol de entrada do improvisado estádio numa autentica arquibancada. Todos querendo assistir ao bizarro espetáculo que acontecia no interior daquelas quatro paredes. E a primeira impressão foi bem assustadora, todas as flores que costumeiramente ornavam os azulejos do cômodo central haviam desaparecidos. Incontáveis foram às vezes em que “sem querer querendo” a bola era chutada pra fora de nosso “campinho” e caia naquele quintal, então, éramos naturalmente craques em pular o citado muro no resgate da pelota perdida. Por isso, sentimos a falta das rosas imediatamente, conhecíamos aquele local – muito bem – por sinal. Era desolador. Dava para saber que elas não poderiam ter sido retiradas assim, da noite pro dia. Algo realmente sinistro estava se passando naquele local - naquele exato momento.

Calafrios me cortavam por inteiro. Posso afiançar que acontecia o mesmo com os outros. Até que um dos espectadores quase foi ao chão, desequilibrado pelo montante de gente querendo espiar sobre a parede de tijolos. Aterrissando no solo, em segurança, um grito foi solto, e – eu juro – o quadro pendurado na parede posterior de onde estávamos simplesmente se moveu! Meu irmão está aí pra não me deixar mentir. A imagem era de um homem, posando virado e olhando para a direita, imediatamente depois de ouvir alguém se esgoelar ele repentinamente passou a estar virado e olhando pra esquerda. Naquele instante, as piadinhas que (ainda) corriam soltas deixaram de existir. O povo ficou chocado. Parado. Amedrontado. Repetimos a cena, para tirar qualquer dúvida. E depois de mais um grito, não é que o maldito voltou à sua posição original?

Repetimos algumas vezes, e a imagem mudava pra lá e pra cá visivelmente, sem qualquer truque ou ilusão de ótica - posso assegurar, vi com meus próprios olhos, assim como pude notar (pessoalmente) a mudança na própria face da grotesca figura, que passou a encarar a platéia em resposta, lançando um arrepiante olhar que faz meus joelhos baterem até agora. Naquela hora, diante de tudo, percebi – por instinto - que a Lua ainda jazia visível no céu azulado, só que curiosamente uma de suas pontas, a de baixo, parecia voltada justamente para a casa, caso pudéssemos tracejar uma linha entre ela e a Terra. O visual era sobrenatural ao extremo. Ainda hoje me pego olhando para nosso satélite natural, distraidamente, refazendo esta linha invisível, imaginando se no final de sua ponta (novos) estranhos fenômenos poderiam estar acontecendo novamente.

Após minutos angustiantes - que pareceram longas horas (principalmente para os irmãos no cativeiro macabro), a mãe dos garotos voltou de suas compras – primeiramente se perguntando sobre que algazarra era aquela. O portão foi aberto na seqüência, gritávamos tentando alertá-la para o que estava se assucedendo, destemidamente, a mulher seguia em frente, sem medo, nem ligando para os avisos – sorridente, perguntava aos filhos: “que história é esta?”. Só que desta vez o rádio não se modificou. Corremos para o muro e – pasmem – as flores tinham voltado! Dando (imediatamente) outro visual – bem melhor - para aquele (até então) tétrico lugar. E o quadro? Estático. Como se nunca tivesse “ganhado vida” momentos atrás. Boquiabertos, fomos nos debandando de volta a nossos afazeres diários, embasbacados com o que vimos – ou deixamos de ver. O polêmico assunto se esticou por dias, sempre que nossa rede de fofocas se formava. Apesar de não chegarmos a nenhuma conclusão razoável.

Com o tempo fui aprendendo que minha vil experiência fantasmagórica tinha outros pormenores. Pelo que sei, a ciência fala sobre casos parecidos, os tais “fenômenos ectoplasmaticos” muito citados pelo Padre Quevedo em suas desmistificações pelo mundo afora. Dizem que uma pessoa atormentada (quando bem jovem) pode projetar através de sua psique (presumidamente afetada) certas coisas, como combustão espontânea – que açoitam os que estão em sua volta – e a eles próprios. Inconscientemente, é claro. Independente de suas vontades. O que explicaria os vários casos de mansões mal-assombradas ainda mal-explicadas. Como na minha história. Vide os irmãos-problema. Trancados por causa da desconfiança. Tristes. Um tormento verídico, realmente. Sem sombra de dúvidas...

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Colocando o pé na estrada das "realidades"

1994. Época em que o “brasileiro estava comendo mais frango”. Nascia o plano Real. A possibilidade de uma moeda em pé de igualdade monetária com o onipotente Dólar mexia com as imaginações brasileiras... Com o caixa fortalecido pelas novas medidas econômicas, minha família rapidamente colocou em pauta seu antigo sonho de viajar rumo à fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai.

Uma rápida olhada no mapa bastou para escolhermos o Paraguai como nossa primeira estada. Não por acaso. “Foz do Iguaçu”, por si só, já valia uma parada estratégica para “Ponta Del Leste”. A idéia de estarmos “abonados” parecia sugestiva demais para umas compras no “informal” mercado "formal" paraguaio.

O passeio pelas belas paisagens paranaenses já se constituía como uma jornada promissora. O sol nos acompanhando até as 8 da noite. Música rolando solta. (Seguindo as predileções “jovem-guardistas” de papai e suas músicas do arco-da-velha!) Não por menos, chegamos bem animados à famosa “Ponte da Amizade”. E em tempo recorde!

Atravessando para o lado guarani, nossa primeira parada fora desastrosa, perdemos tempo buscando uma “liberação” que sequer precisávamos. Poderíamos entrar livremente no país vizinho, diferente do que nosso guia de estrada (espertalhão) nos fazia acreditar a principio. O rapaz (aparentemente, um pouco mais velho do que eu) tentava nos fazer comprar uma “licença” que (de fato) só era expedida e/ou necessária para os turistas que fossem passar mais de um mês em solo paraguaio. Descobrimos a farsa a tempo de evitarmos desembolsar uma fortuna pelo papel timbrado - e com segundos de sobra para se despedirmos apropriadamente (de uma forma nem um pouco elogiosa) do “camarada” sabichão.

Andando pela decantada "Ponte da Amizade"

Passado o primeiro sufoco, uma nova luta se iniciava. A cidade estava amarrotada, ficava quase impossível encontrar um espaço para se estacionar o carro. Precisaríamos esperar alguém abandonar sua vaga. Começamos a caçar alguma possível vítima. Demos sorte, logo fomos agraciados pelo lugar deixado por mais um feliz muambeiro de partida. Estávamos prontos para caminhar rumo as incontáveis lojas/camelôs da cidade.

Ficamos animadíssimos. Tinha vertigens de alegria só de pensar em quantos cartuchos do Mega Drive eu conseguiria embolsar quase de graça. Se abusar, até videogame novo eu compraria por qualquer preçinho mais camarada. Nossa primeira parada foi para trocar nosso Real “poder aquisitivo” pelo Dólar paraguaio. É incrível, em qualquer esquina um posto do governo fica de prontidão para realizar tal serviço. Bolso preparado, dinheiro repartido... Fomos às compras.

Interessante é que aquém das ruas recheadas de muambas, os intricados mini-shoppings são um verdadeiro paraíso para quem procura por qualquer tipo de quinquilharias. Algumas lojas (inclusive) parecem propositadamente escondidas. Colocadas no cantinho secreto só conhecido pelos consumidores mais assíduos. Tomei um susto a encontrar algumas Megastores perdidas - e bem pesadas - de onde qualquer um sairia mais armamentado do que um G.I. Joe bem equipado.

Eram tantas lojas, produtos de procedência duvidosa, que fiquei rapidamente ressabiado em sacar qualquer nota para adquirir coisa alguma. Andamos muito. E logo descobrimos o quanto alguns dos vendedores locais agiam premeditadamente. Os “de rua” chegavam a seguir possíveis compradores. Uma senhora, sempre munida de sua trouxa de infindáveis aparelhos, nos apareceu umas 3 vezes no raio de 4 quilômetros. Já éramos até íntimos. Ela havia aprendido e nos chamava pelos nomes a cada novo coincidente encontro. Só nos deixando quando (finalmente) conseguiu “obrigar” meu pai a comprar um “ultra massageador automático” que - como esperado - nunca funcionou.

Notei também que a relação entre os povos não era das melhores. Os paraguaios nos atendiam em bom “portunhol” e se despediam em indecifrável guarani. Engraçado. Se não fosse trágico. Palavras ofensivas são facilmente entendidas, mesmo quando não se conhece a língua. Havia claramente um rancor obtuso entre os “vendedores e compradores”. Um histórico de maus tratos - de ambas as partes - estava criando uma situação suis generis de confronto. Lembrei-me imediatamente das aulas de história. Ressaltando a "Guerra do Paraguai", onde incitados pela Inglaterra, Brasil e Argentina levaram o "inimigo" a “banca-roupa”. Não por menos, este evento é descrito pelo “outro lado” como o “massacre do povo paraguaio”.

Foi quando percebi (in loco) que ali existia um país invisível aos insensíveis consumidores brazukas - ávidos por compras fáceis e sedutoras. Xingamentos impronunciáveis (contra os brasileiros) cantavam pelas alamedas na inteligível linguagem hispânica. Praças de alimentação eram escandalosamente desprovidas de qualquer saneamento básico. Ao meio-dia, o estomago já esperneava querendo algo... Procuramos por meia-cidade em busca de qualquer estabelecimento razoável. Encontramos uma barraca onde água barrenta (provenientes das chuvas) era usada para limpar as cuias de chá. Perdemos a fome na hora.

Só encarei, com muito esforço, uma garrafa de refrigerante (ajudado pela sede provocada pela longa caminhada). Bem lacrada/vedada contra as intempéries externas. Vendida por ambulantes nas esquinas e semáforos. No mais caótico sistema de trânsito que já encontrei (ou encontrarei) em toda minha vida - devo ressaltar. Entre os motoristas de “Ponta Del Leste” imperava (com certeza) a lei da Selva.

Desencantados pela dura “realidade”, voltamos a transitar entre os comerciantes. Mal estava prestando atenção no que vendiam. Perdera toda a vontade de comprar qualquer coisa. Encontrei - sim - centenas de jogos interessantes, mas não poderia deixar meu lado consumista sobrepujar a faceta humana. Não enquanto presenciava paraguaios pegando um ônibus da década de 40. Brinquei falando que qualquer um que fosse atropelado por tamanha “carcaça de ferro” morreria imediatamente de tétano. Estava disfarçando o horror provocado pela situação lastimável...

O Oásis natural das Cataratas do Iguaçu

Encontramos nosso carro no cair da tarde. Moças brasileiras eram cantadas e afrontadas (em guarani) por alguns dos vendedores na esquina. Meu estômago embrulhou de vez com tamanha letargia. Só pensava em sair dali - o mais rápido possível. No caminho, registrei a vergonhosa facilidade em transportar as mercadorias piratas para o lado brasileiro. Policiais da polícia federal vigiavam a ponte, enquanto malas lotadas de contrabando eram arremessadas no rio e recolhidas por pequenos barcos que (livremente) carregavam os malotes para Foz do Iguaçu. Dá pra entender agora porque estes produtos já vêem “quebrados”.

De volta a solo tupiniquim, finalmente comemos um pouco. Bem pouco. Estávamos todos sob os efeitos da cansativa passada pelo “verdadeiro” 3º mundo... Uma volta pelas “Cataratas” no Parque Nacional do Iguaçu aliviaram um pouco do desastre. Turistas - de todas as partes do mundo - se divertiam entre as águas, contagiando qualquer um que passasse ao lado. Exauridos, fomos embora sem a visita básica pelo lado Argentino. Ninguém tinha qualquer ânimo pra isso. Resolvemos voltar diretamente para casa.

A experiência tinha sido acachapante. Pelo menos para mim - principalmente depois de tudo o que vi. E (principalmente) senti.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

A mais longa das batalhas titânicas

PS2 na fonte. Luz verde acesa. Controle Dual Shock devidamente posicionado entre os dedos. O símbolo “Playstation 2” piscando para confirmar que o DVD estava funcionando... Tudo nos conformes. Agradeci aos céus. Um novo título (velho conhecido) enchia a tela e me trazia um calafrio na espinha: “Square-Enix”. Seguido da singela abertura de “Final Fantasy X”. Observei até o fim - esperando por uma costumeira (e embasbacante) animação em computação gráfica. Fiquei decepcionado. Só apareceram gráficos do jogo. Jogo japonês, diga-se de passagem. Ainda bem q se tratava da versão “internacional”, lançada no oriente com opção de áudio e legendas em Inglês (ufa!).

Apertei o Start, ansioso. Coração controlando o analógico. Não tinha tido a melhor das impressões com o início. Era um FF, cacildis! Tinha q ser perfeito. Obrigatoriamente. Principalmente para um console de 128 (escandalosos) bits. Expectativas altas às vezes são difíceis de serem alcançadas, lamentei... O agouro descia pela espinha até o estômago. Resolvi insistir. A curva de aprendizado dos RPGs atuais é sufocante - leva-se tempo para entramos definitivamente no “game”. Passado os primeiros estágios (e assimilado o esquisitíssimo sistema de evolução chamado Sphere Grid), percebi o quanto estava satisfeito. Meu calafrio deu lugar a um ótimo passatempo.

Tudo ficava melhor a cada hora desprendida. E foram inúmeras. Centenas de batalhas travadas, botões apertados, inimigos vencidos, upgrades realizados... Dei “tchau” para minha vida social. Sem qualquer remorso. Cada minuto era importante, o mundo de Spira corria perigo. Não podia ficar perdendo meu tempo com bobagens inúteis. Nada de comer, dormir ou sair um pouquinho. Na pele do herói “Tidus”, meu único objetivo era ajudar Yuna (minha companheira de aventura) a derrotar Sin. Não lutávamos sozinhos, lógico. Tínhamos um time: Auron, Lulu, Kimari, Wakka e Rikku. Conseguimos feitos inesquecíveis. Todos devidamente recompensados pelo jogo, que entregava cada trecho mais belo e cinematográfico do que o outro.

Com direito a algumas das melhores CGs que já encontrei nos videogames. Numa delas, após vencer (no bico do corvo) mais um vilão “impossível” de ser abatido, ganhei uma surpresa (bem) agradável: o beijo entre Tidus e Yuna. Na boca! Aqui vale uma explicação, cenas deste tipo são incomuns nos games japoneses. Normalmente recatados, intimidades como esta quase inexistem na cultura de massa japonesa. Tente se lembrar de qualquer beijo entre Goku e Titi, por exemplo. Não tem. Em “Dragon Ball” eles se casam e até ganham filhos. Mas nunca rolou nenhum beijinho público. Nem selinho. FFX é uma obra amadurecida neste sentido, além de demonstrar claramente muitas das influências ocidentais - onde carícias entre herói e mocinha são normais.

Romance ao som de "Suteki Da Ne" (Isn't it beautiful?)

60 horas (totais) depois, chego ao chefão-final. Pilantra, sem-vergonha - com mais pontos de vida do que achava possível na matemática squariana. Como penei para vencê-lo. Só q ele retornava ainda mais forte numa nova fase de embates... Dei como impossível. Não encontrava alternativas para sobrepujar tão absurdo desafio. Morri algumas vezes. Em cada tombo, palavras de baixo escalão eram lançadas contra os programadores. Pra q criar algo tão imbatível??? Voltei à luta novamente, overdrive até o talo. 3 horas foram necessárias para liquidá-lo. Morreria no próximo ataque se o golpe de misericórdia não fosse suficiente para colocá-lo no tablado. Comemorei o feito. Até o “maledito” ressurgir novamente. Fui tomado pelo desespero.

Amaldiçoei 28 gerações de cada membro da Square. Estava prestes a arremessar o console na parede, até que... Descobri q tudo não passava de um “blefe”. Uma formalidade até os 14 minutos de verdadeiro “The End”. Deu tempo até pra colocar uma fita no videocassete (sim, eles ainda existem!) e gravar as animações para a posteridade. Suado, cansado, abatido, assisti com fome (e vontade de ir ao banheiro) os letreiros finais aparecerem (com cena pós-crédito) e me devolverem para a vida real, novamente. Sai feliz da vida. Perdi algumas dezenas de horas, realmente. Mas ganhei uma história de superação que ficará comigo para sempre.

domingo, 26 de agosto de 2007

Meus 10 melhores momentos esportivos

Naturalmente, como qualquer brasileiro que já jogou bola na vida (e não se tornou um Kaká ou Ronaldinho Gaúcho) fui um craque injustiçado. Talento perdido por puro azar, falta de sorte, pé gelado, mal olhado e - talvez - ausência de bons empresários, que soubessem reconhecer/vender meu potencial “fora de série”. Lamentavelmente ignorado pela mídia, só posso imaginar o que teria acontecido se meu top 10 (pessoal) - de lances magistrais - tivesse sido de conhecimento público:

1. Jogo corrido na arena society do Jardim Morumbi, os times com camisa enfrentam os “sem” na areia molhada pela chuva ininterrupta. Partida dura, disputada, sobra vontade e técnica escassa, até que certo “japonês” aparece do nada. Unindo força e habilidade, foi o destaque - fiel da balança que levou seu time descamisado à vitória. Duas partidas antes, levei uma pancada no rosto, meus olhos incharam na hora, quase se fechando. Continuei jogando, os competidores que chegavam atrasados (e esperavam de “próximo”) logo notaram o tal “nipônico” - de olhos quase fechados - acabando com os adversários. Passei-me por jogador japonês sem saber, ainda que tratasse a pelota como manda o verdadeiro futebol brasileiro.

2. Quadra comunitária do Vale do Sol. 10 minutos ou dois gols, cada turma vem com sua equipe montada da rua. Após algumas boas vitórias, o momento de maior glória: do meio da cozinha mandei um “sem pulo” – de costas – para o barbante, balançando a rede e incomodando a coruja do ângulo esquerdo. Golaço ovacionado. Espectadores boquiabertos aplaudiram de imediato. Sai fingindo não comemorar. Estava curtindo a maior "marra" de todas.

3. Gramado central do mesmo Vale do Sol. Tarde propensa aos futebolistas, improvisado na zaga, ainda não tinha aparecido pra torcida até sair jogando depois de mais um desarme elegante. De cabeça erguida, ouvi alguém gritar de longe: “Toca lá na frente”. Imediatamente – calando Morsa - fiz um lançamento de 100 metros, colocando o atacante (autor do aviso distante) na cara do gol (e com a bola encaixada em seus pés). Rede estufada, o “artilheiro” tenta agradecer pelo passe inspirado. Uma, duas, três vezes. Não lhe respondi em nenhuma. Estava na segunda maior "marra" de todas.

4. Gramado secundário, partida preliminar típica de final da tarde, pós-treino. Recebendo a “redonda” pela lateral esquerda, fiquei apertado pela marcação na saída de bola. De costas, consegui dar um calcanhar na “criança” e mandá-la no vão das pernas de quem se preparava para dar o bote. Pulei o carrinho do cavalo e peguei a “esférica” livre do outro lado - pronto (e preparado) para mais um ataque. Três “amigos” do rapaz humilhado rolaram imediatamente no gramado, risonhos e com espasmos de tanto gargalhar.

5. Rua 18, futebolzinho nosso de cada dia. Recebo o passe na fogueira. Viro-me do jeito que posso. Amigo vem e vai - no vazio. Faço a bola falar “ta aqui” e depois “não ta mais”. Três vezes seguidas. O tio do rapaz chega a exclamar: “Nossa!”

6. Passe comprido, calor dos infernos, domingão folgado... De um lado da calçada, mato a bola no peito e a trato de “meu bem”, jogando-a (ainda com o peito) para quem vinha livre do outro lado da rua. Transeuntes que passavam pelo local aplaudem a plasticidade da bela jogada.

7. Escola Major Miguel Naked. Aula de educação física. Seguindo o rodízio de posições, paro no gol. Visto as luvas e fecho a porteira. Até mesmo para os companheiros de time. Um deles, impaciente, tenta tirar o perigo da área e manda um balaço para a própria meta. No reflexo, dou uma ponte digna de Yashin, encaixando a bolota nos meus braços. Palmas ecoam por toda a quadra, vindos das meninas que (até então) treinavam no terreno ao lado. Elas pararam para observar justamente na hora da defesa “milagrosa”.

8. Campeonato de duplas. Sem companheiro, ausente pela gripe, quase fico de fora do torneio. Me junto a um desconhecido - que havia sobrado - e começo a competição de rua se multiplicando em campo. Resultado: taça, artilheiro e defesa menos vazada. O “banho” nos times “entrosados” acaba compensando todas as centenas de milhas corridas a mais. Nenhum exame anti-doping fora realizado durante o evento.

9. Desafio! Sozinho, enfrento dois amigos. O perdedor paga a Coca-Cola. Posicionado entre a dupla, intercepto os passes, fecho os espaços para dribles e me lanço em mortais contra-ataques. Ganho com larga margem de vantagem, apesar de todas as desvantagens. Intoxiquei de tanto refrigerante (na faixa), principalmente vendo a “cara” dos derrotados...

10. Campeonato escolar. Jogo Final. “6º série” 2 x 1 “1º Colegial”. Vencíamos. Faltavam dois minutos... No banco, “descansando” por não ter pago ($$$) as taxas do torneio (uma “vaquinha” das mais safadas para comprar as medalhas), assisto nosso (até então) melhor jogador ser expulso. Sem saída, sou colocado no jogo, recebendo um conselho do colega advertido com o vermelho: “Entra lá e quebra os caras”. Entro no maior gás, segundos depois, já participo de minha primeira jogada... Provando (definitivamente) que meu futuro no futebol não poderia ter sido outro. Sabe o q eu fiz? Nem te conto...

“Fui na bola, seu juiz...”

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Eu x Meu signo: Leão (22/07 a 22/08)


Não costumo ler e sequer acho q acredito, contudo, resolvi interpelar meu signo e compará-lo comigo. Abaixo, segue um texto Ctrl C + Ctrl V sobre os leoninos e nele deixo minhas considerações pessoais (colocando o q penso entre parênteses):

“Os leoninos são autoconfiantes (nem tanto), honestos (sim), criativos (muito), extrovertidos (bastante) e conscientes de seus direitos (e defeitos - principalmente - deveres também). Negativamente podem ser orgulhosos (o que nem sempre é um defeito), presunçosos (este sim é péssimo!), inflexíveis (aka burros q permanecem no erro) e egocêntricos (por demais, mas sou vacinado contra isso).

Os leoninos são afetuosos (isso, isso, isso...), generosos (torçam pra eu ficar rico!) e gostam de demonstrar seus sentimentos (depende muito do momento e/ou pra quem). Têm grande necessidade de aprovação (somos nossos maiores críticos - e nos cobramos muito - exageradamente, sempre) e são suscetíveis à lisonja (nem sabia q esta palavra existia). Precisam estar em evidência (hahahaha...), gostam de ser o centro das atenções (eu prefiro é ficar longe!).

Têm um forte senso de integridade (isso é o mínimo, nem considero como elogio) e presumem que ao outras pessoas sejam iguais (acreditamos demais nas pessoas – cegamente – já sofri muito por causa disso - mesmo assim, num tem jeito, continuo acreditando nos outros). Por isso são muito confiantes e sinceros (só digo a verdade, a mentira eu sonego), e estas características podem provocar dificuldades interpessoais (e como, arf... tem tanta gente q prefere a falsidade). Também podem ser muito impacientes (eu mato uns cinco se ficar + de alguns minutos em qualquer fila) e, com freqüência, obstinados (até a morte) e irritadiços nas discussões (q nada, é bom pro meu sangue italiano, adoro boas e saudáveis discussões - disse discussões - não brigas). Quando os leoninos não são autênticos e não satisfazem seu desejo por brilho e reconhecimento, podem desenvolver características de indolência (magina...), preguiça (alguns - eu - morrem disso e são autênticos e satisfeitos com o seu brilho, independente disso), falta de coragem (cada caso é um caso) e impetuosidade (cada caso...).

Profissionalmente os leoninos atuam bem em posições (múltiplas) de responsabilidade, comando e administração (administração? Eu fiz jornalismo, ora bolas... pelo menos tem a ver com responsabilidade, não é?). Podem trabalhar em áreas ligadas à política (to fora), bolsa de valores (to fora), relações públicas (to fora), entretenimento (EBA!!!!!!), direção de empresa (e filmes, por favor), ensino e pedagogia (hum...). Trabalham bem em áreas que requeiram criatividade (q diliça), confiram distinção e reconhecimento (menos Alberto, menos...).

A falta de afeto e a timidez podem diminuir seu alto grau de vitalidade (diminui outras coisas também). Com isso podem surgir problemas no coração (sentimentalmente idem), na coluna, nas costas (carregamos o peso do mundo) e na visão (acho q preciso de óculos...). Os leoninos também são propensos a sofrer acidentes (quebrei meu braço mais vezes do que consigo contar), terem febres altas (com delírios repentinos) e doenças súbitas (que inclusive melhoram do nada).

Como são muito amorosos e afetuosos (confesso q fiquei vermelho agora), os leoninos gostam de se apaixonar (vivemos em função disso) e sentem grande atração pelo sexo (fala isso naun, é pecado, Deus castiga) e o prazer (receber e dar, mais o último do q o primeiro). No amor (coisa rara) são calorosos (latino é f...), românticos (sem pieguices, lógico) e generosos (ou pelo menos tentamos, mas precisamos de incentivo à cultura pra poder dá conta de tudo). Conduzem a relação como uma peça teatral (no meu caso, cinematográfica), como algo mágico (sci-fi até) e suntuoso (costumamos quebrar a cara por isso, a realidade nem sempre é tão mágica ou grandiosa como queremos). Amam com classe (viu, seus nerds pervertidos!) e sem inibição (sou meio japonês, nada de exibicionismo público), certos de que sempre agradarão (eu não teria tanta certeza disso...)”.

Meu horóscopo do dia:

“Vibração astral (???) propicia pra você suar a camisa num negocio (eu tenho vários - e uso desodorante!), trabalhar com afinco e senso de propósito (sempre fiz isso), até mesmo diminuindo o tempo de lazer (lazer, eu?) em nome de realizar um objetivo que está pendente (tenho vários deles). Mas seja flexível e fique atrelado a realidade (nada de alucinógenos, ok!), por pior que seja (coloca pior nisso). Amores em baixa, paciência”!

Paciência, ein? Ta baun.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Contradições de uma dualidade ambulante

(Lado Negativo) "Sou uma pessoa azarada, triste e arrasada. Ruim por natureza e amaldiçoada pela própria existência. Sequer mereço um perdão (quanto mais sua pena). Uma alma sem rumo q já penou mais do que se imagina e menos do que merecia. Um pobre e desastrado desgraçado que não suporta mais sua pífia vidinha carcomida. Corroída e devastada por quem já perdeu qualquer esperança de sobrevida. Um infeliz predestinado ao sofrimento (eterno) e a carregar o peso do arrependimento e do erro. Um vilão desalmado, incapaz de qualquer benção ou altruísmo. Um maldito que é esfacelado a cada minuto em qualquer parte do mundo. Quem sou eu? Nada mais sou do que um malvado miserável e sujo. Incapaz de chorar ou sentir. De rir ou ser feliz.

Sou apenas um pecador combalido, com mais cicatrizes do que todos os pecadores somados, mesmo se multiplicados. Desprezo pessoas e coisas, animais e plantas. Nada me é bonito, belo e lindo. Gosto do feio, do podre, do nojento. Doce vida q me é tão amarga. Detesto-me tanto quanto detesto a tudo e a todos... Não suporto mais morrer sem mesmo viver. Perecer sem padecer. Desaparecer sem sequer existir. Não vejo a hora de deixar o casco dessa carne fraca e castigada. Ganhar o nada já seria mais do q tenho agora. Mas desfalecer assim seria injusto pra mim. Alguém em algum lugar não gosta de mim. Pesarei eternamente a sangria dos meus atos. Lamentando a sombra que lancei sobre aqueles que me amavam. Rogando para a dor ser finita e a libertação ser eterna. E minhas correntes quebradiças. A vida após a morte me espera. Quem sou eu? Minha própria consciência pesada".

(Lado Positivo) “Sou um amante das coisas boas e puras. Da liberdade e da decência. Protetor sublime das cousas divinas. Artífice da bondade e da fraternidade. Regozijo-me pelas belezas cósmicas, pela criação e pelas transformações do próprio homem. Amo a vida e tudo o que existe nela. Assim como sou amado pelo autor da existência - pode ter certeza. Quem sou eu? Um bom vivante que respira o momento e aspira o futuro. Anseia, deseja, pede, suplica, se esforça em se tornar melhor a cada dia. Para sua família, amigos, conhecidos, desconhecidos, gente que nunca viu ou verá na vida. Sou luz, sou paz, sou a essência da comunhão dos céus, dos mares, dos ares. Brilho intensamente a cada momento, enraizado na esperança e no alento. Banho-me da luz, da fonte, do alimento que move a tudo e a todos. Ah! Doce vida que me é tão amável. Como pude te negar outrora ao despertar? Existo e penso na beleza de cada segundo, desfrutando um momento único. Inesquecível. Preso entre leis da física e do tempo. Mesmo assim. Sinto a própria quintessência que une tudo o que transcende. Liberto das correntes, da matéria impura e fétida que fere a alma, desanca o corpo – peso morto. Quem sou eu? Uma pessoa feliz e realizada, um pecador perdoado, alforriado e renascido. Sou o novo milênio, sou o velho e bom triênio. Apenas uma consciência tranqüila, vivendo novamente em harmonia, pêndulo sem peso e pronto para compartilhar o caminho do arrependimento, talvez, nosso maior acerto”.

(Lado Equilibrado) “Sou um cara comum, sem grandes virtudes ou fraquezas. De altos e baixos. Às vezes mais altos do que baixos. Ou o contrário. Difícil falar de mim, mal me conheço apesar de me conhecer melhor do que ninguém. Sempre me surpreendo comigo mesmo. Sou assim. Revolucionário e conservador ao mesmo tempo. Dialético. Mas sem conflitos internos. Nem externos. Do contrário, vivo bem com todos os que me cercam. Defeitos? Estou cheio. Virtudes também. Sou imperfeito, não nego. Nego que sou perfeito, apesar de meus acertos. Sou apenas alguém. Entre tantos outros. Mas não sou mais um. Sou um. Não valho por dois, muito menos por nenhum. E quando preciso, me divido. Não sou matemático. Apenas um amigo problemático. Enfrentando a vida como qualquer outro. Ajudando quem está ao lado. E sendo ajudado".
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Quem sou eu? Ainda não sei. Alguém multifacetado, quem sabe?