quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Contradições de uma dualidade ambulante

(Lado Negativo) "Sou uma pessoa azarada, triste e arrasada. Ruim por natureza e amaldiçoada pela própria existência. Sequer mereço um perdão (quanto mais sua pena). Uma alma sem rumo q já penou mais do que se imagina e menos do que merecia. Um pobre e desastrado desgraçado que não suporta mais sua pífia vidinha carcomida. Corroída e devastada por quem já perdeu qualquer esperança de sobrevida. Um infeliz predestinado ao sofrimento (eterno) e a carregar o peso do arrependimento e do erro. Um vilão desalmado, incapaz de qualquer benção ou altruísmo. Um maldito que é esfacelado a cada minuto em qualquer parte do mundo. Quem sou eu? Nada mais sou do que um malvado miserável e sujo. Incapaz de chorar ou sentir. De rir ou ser feliz.

Sou apenas um pecador combalido, com mais cicatrizes do que todos os pecadores somados, mesmo se multiplicados. Desprezo pessoas e coisas, animais e plantas. Nada me é bonito, belo e lindo. Gosto do feio, do podre, do nojento. Doce vida q me é tão amarga. Detesto-me tanto quanto detesto a tudo e a todos... Não suporto mais morrer sem mesmo viver. Perecer sem padecer. Desaparecer sem sequer existir. Não vejo a hora de deixar o casco dessa carne fraca e castigada. Ganhar o nada já seria mais do q tenho agora. Mas desfalecer assim seria injusto pra mim. Alguém em algum lugar não gosta de mim. Pesarei eternamente a sangria dos meus atos. Lamentando a sombra que lancei sobre aqueles que me amavam. Rogando para a dor ser finita e a libertação ser eterna. E minhas correntes quebradiças. A vida após a morte me espera. Quem sou eu? Minha própria consciência pesada".

(Lado Positivo) “Sou um amante das coisas boas e puras. Da liberdade e da decência. Protetor sublime das cousas divinas. Artífice da bondade e da fraternidade. Regozijo-me pelas belezas cósmicas, pela criação e pelas transformações do próprio homem. Amo a vida e tudo o que existe nela. Assim como sou amado pelo autor da existência - pode ter certeza. Quem sou eu? Um bom vivante que respira o momento e aspira o futuro. Anseia, deseja, pede, suplica, se esforça em se tornar melhor a cada dia. Para sua família, amigos, conhecidos, desconhecidos, gente que nunca viu ou verá na vida. Sou luz, sou paz, sou a essência da comunhão dos céus, dos mares, dos ares. Brilho intensamente a cada momento, enraizado na esperança e no alento. Banho-me da luz, da fonte, do alimento que move a tudo e a todos. Ah! Doce vida que me é tão amável. Como pude te negar outrora ao despertar? Existo e penso na beleza de cada segundo, desfrutando um momento único. Inesquecível. Preso entre leis da física e do tempo. Mesmo assim. Sinto a própria quintessência que une tudo o que transcende. Liberto das correntes, da matéria impura e fétida que fere a alma, desanca o corpo – peso morto. Quem sou eu? Uma pessoa feliz e realizada, um pecador perdoado, alforriado e renascido. Sou o novo milênio, sou o velho e bom triênio. Apenas uma consciência tranqüila, vivendo novamente em harmonia, pêndulo sem peso e pronto para compartilhar o caminho do arrependimento, talvez, nosso maior acerto”.

(Lado Equilibrado) “Sou um cara comum, sem grandes virtudes ou fraquezas. De altos e baixos. Às vezes mais altos do que baixos. Ou o contrário. Difícil falar de mim, mal me conheço apesar de me conhecer melhor do que ninguém. Sempre me surpreendo comigo mesmo. Sou assim. Revolucionário e conservador ao mesmo tempo. Dialético. Mas sem conflitos internos. Nem externos. Do contrário, vivo bem com todos os que me cercam. Defeitos? Estou cheio. Virtudes também. Sou imperfeito, não nego. Nego que sou perfeito, apesar de meus acertos. Sou apenas alguém. Entre tantos outros. Mas não sou mais um. Sou um. Não valho por dois, muito menos por nenhum. E quando preciso, me divido. Não sou matemático. Apenas um amigo problemático. Enfrentando a vida como qualquer outro. Ajudando quem está ao lado. E sendo ajudado".
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Quem sou eu? Ainda não sei. Alguém multifacetado, quem sabe?

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