terça-feira, 28 de agosto de 2007

A mais longa das batalhas titânicas

PS2 na fonte. Luz verde acesa. Controle Dual Shock devidamente posicionado entre os dedos. O símbolo “Playstation 2” piscando para confirmar que o DVD estava funcionando... Tudo nos conformes. Agradeci aos céus. Um novo título (velho conhecido) enchia a tela e me trazia um calafrio na espinha: “Square-Enix”. Seguido da singela abertura de “Final Fantasy X”. Observei até o fim - esperando por uma costumeira (e embasbacante) animação em computação gráfica. Fiquei decepcionado. Só apareceram gráficos do jogo. Jogo japonês, diga-se de passagem. Ainda bem q se tratava da versão “internacional”, lançada no oriente com opção de áudio e legendas em Inglês (ufa!).

Apertei o Start, ansioso. Coração controlando o analógico. Não tinha tido a melhor das impressões com o início. Era um FF, cacildis! Tinha q ser perfeito. Obrigatoriamente. Principalmente para um console de 128 (escandalosos) bits. Expectativas altas às vezes são difíceis de serem alcançadas, lamentei... O agouro descia pela espinha até o estômago. Resolvi insistir. A curva de aprendizado dos RPGs atuais é sufocante - leva-se tempo para entramos definitivamente no “game”. Passado os primeiros estágios (e assimilado o esquisitíssimo sistema de evolução chamado Sphere Grid), percebi o quanto estava satisfeito. Meu calafrio deu lugar a um ótimo passatempo.

Tudo ficava melhor a cada hora desprendida. E foram inúmeras. Centenas de batalhas travadas, botões apertados, inimigos vencidos, upgrades realizados... Dei “tchau” para minha vida social. Sem qualquer remorso. Cada minuto era importante, o mundo de Spira corria perigo. Não podia ficar perdendo meu tempo com bobagens inúteis. Nada de comer, dormir ou sair um pouquinho. Na pele do herói “Tidus”, meu único objetivo era ajudar Yuna (minha companheira de aventura) a derrotar Sin. Não lutávamos sozinhos, lógico. Tínhamos um time: Auron, Lulu, Kimari, Wakka e Rikku. Conseguimos feitos inesquecíveis. Todos devidamente recompensados pelo jogo, que entregava cada trecho mais belo e cinematográfico do que o outro.

Com direito a algumas das melhores CGs que já encontrei nos videogames. Numa delas, após vencer (no bico do corvo) mais um vilão “impossível” de ser abatido, ganhei uma surpresa (bem) agradável: o beijo entre Tidus e Yuna. Na boca! Aqui vale uma explicação, cenas deste tipo são incomuns nos games japoneses. Normalmente recatados, intimidades como esta quase inexistem na cultura de massa japonesa. Tente se lembrar de qualquer beijo entre Goku e Titi, por exemplo. Não tem. Em “Dragon Ball” eles se casam e até ganham filhos. Mas nunca rolou nenhum beijinho público. Nem selinho. FFX é uma obra amadurecida neste sentido, além de demonstrar claramente muitas das influências ocidentais - onde carícias entre herói e mocinha são normais.

Romance ao som de "Suteki Da Ne" (Isn't it beautiful?)

60 horas (totais) depois, chego ao chefão-final. Pilantra, sem-vergonha - com mais pontos de vida do que achava possível na matemática squariana. Como penei para vencê-lo. Só q ele retornava ainda mais forte numa nova fase de embates... Dei como impossível. Não encontrava alternativas para sobrepujar tão absurdo desafio. Morri algumas vezes. Em cada tombo, palavras de baixo escalão eram lançadas contra os programadores. Pra q criar algo tão imbatível??? Voltei à luta novamente, overdrive até o talo. 3 horas foram necessárias para liquidá-lo. Morreria no próximo ataque se o golpe de misericórdia não fosse suficiente para colocá-lo no tablado. Comemorei o feito. Até o “maledito” ressurgir novamente. Fui tomado pelo desespero.

Amaldiçoei 28 gerações de cada membro da Square. Estava prestes a arremessar o console na parede, até que... Descobri q tudo não passava de um “blefe”. Uma formalidade até os 14 minutos de verdadeiro “The End”. Deu tempo até pra colocar uma fita no videocassete (sim, eles ainda existem!) e gravar as animações para a posteridade. Suado, cansado, abatido, assisti com fome (e vontade de ir ao banheiro) os letreiros finais aparecerem (com cena pós-crédito) e me devolverem para a vida real, novamente. Sai feliz da vida. Perdi algumas dezenas de horas, realmente. Mas ganhei uma história de superação que ficará comigo para sempre.

Nenhum comentário: