sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Historietas de Terror

Sabem, me lembro que costumava contar histórias de terror ao cair da noite. Pensando nisso agora, até parece algo bobo. E não seria errado imaginar assim. Ao mesmo tempo, não posso deixar de constatar que estes momentos (igualmente) são absurdamente nostálgicos. Reunia aquela roda de amigos e vários contos bizarros eram ditos, sejam eles verídicos ou puras sagas da carochinha. Dos que ouvi, acredito em uns e dou muita risada da esmagadora maioria, mas daqueles narrados por mim, pelo menos um posso jurar de pé junto e assegurar sua veracidade.


Foi assim, era domingo, aos poucos a rapaziada estava saindo de suas casas e se reunindo na rua - para aquele bate-papo básico. Eu tinha uns 9 anos de idade, meu irmão – que estava comigo e também foi testemunha do ocorrido – tinha uns 12. Conversa fiada era jogada fora até que notamos dois vizinhos sentados na varanda de sua respectiva casa. Se aproximamos para puxar nova conversa, só que para nossa surpresa os caras estavam apavorados – para dizer o mínimo. A mãe dos irmãos (pelo que sei) tinha saído cedo (ido a feira) e para evitar que os rebentos fugissem pra zoar na esquina, deixou o portão e os pobres garotos trancafiados. Brincadeiras apareceram aos montes sobre a lastimável aparência dos colegas em cárcere privado - que guardavam o jogo e não contavam por que diabos estavam parados ali. Num desabafo eles apelaram: “vocês não vão acreditar no que está acontecendo”, disseram.

“A casa está assombrada” foi o que revelaram na seqüência. Logicamente, todos nós pensamos em se tratar de uma brincadeira, mais uma peça pregada pelos moleques (a mãe deles, já acostumada com estas travessuras que o diga). Contudo, eles pareciam apavorados demais para sustentar tal mentira – tão bem. Ou se tratava de atores excepcionais ou algo de muito estranho estava mesmo acontecendo naquela residência. A primeira prova foi o rádio que permanecia ligado na cozinha. Até aquele ponto, nenhum dos meninos ousava em voltar pra dentro de casa, temerosos com algo. Segundo o relato, só de se aproximarem o velho “radinho” (aparentemente encapetado) aumentava ou diminuía o som – só de sacanagem. Isso aconteceu algumas vezes, em todas em que os dois prisioneiros se aproximavam da porta de entrada. Estranho, entretanto, suspeito. Poderia ser um defeito no aparelho. Continuamos incrédulos (embora estivesse me borrando de medo, no íntimo).

Para sorte ou azar da turma que se aglomerava na calçada, ao lado deste casarão “pseudo-fantasma” existia um terreno baldio que usávamos como campo de futebol. E como a casa fora construída em meio lote com um muro lateral razoavelmente baixo, dava para subir nele e olhar diretamente para o interior do casebre. E foi o que fizemos. Logo, tínhamos transformado o gol de entrada do improvisado estádio numa autentica arquibancada. Todos querendo assistir ao bizarro espetáculo que acontecia no interior daquelas quatro paredes. E a primeira impressão foi bem assustadora, todas as flores que costumeiramente ornavam os azulejos do cômodo central haviam desaparecidos. Incontáveis foram às vezes em que “sem querer querendo” a bola era chutada pra fora de nosso “campinho” e caia naquele quintal, então, éramos naturalmente craques em pular o citado muro no resgate da pelota perdida. Por isso, sentimos a falta das rosas imediatamente, conhecíamos aquele local – muito bem – por sinal. Era desolador. Dava para saber que elas não poderiam ter sido retiradas assim, da noite pro dia. Algo realmente sinistro estava se passando naquele local - naquele exato momento.

Calafrios me cortavam por inteiro. Posso afiançar que acontecia o mesmo com os outros. Até que um dos espectadores quase foi ao chão, desequilibrado pelo montante de gente querendo espiar sobre a parede de tijolos. Aterrissando no solo, em segurança, um grito foi solto, e – eu juro – o quadro pendurado na parede posterior de onde estávamos simplesmente se moveu! Meu irmão está aí pra não me deixar mentir. A imagem era de um homem, posando virado e olhando para a direita, imediatamente depois de ouvir alguém se esgoelar ele repentinamente passou a estar virado e olhando pra esquerda. Naquele instante, as piadinhas que (ainda) corriam soltas deixaram de existir. O povo ficou chocado. Parado. Amedrontado. Repetimos a cena, para tirar qualquer dúvida. E depois de mais um grito, não é que o maldito voltou à sua posição original?

Repetimos algumas vezes, e a imagem mudava pra lá e pra cá visivelmente, sem qualquer truque ou ilusão de ótica - posso assegurar, vi com meus próprios olhos, assim como pude notar (pessoalmente) a mudança na própria face da grotesca figura, que passou a encarar a platéia em resposta, lançando um arrepiante olhar que faz meus joelhos baterem até agora. Naquela hora, diante de tudo, percebi – por instinto - que a Lua ainda jazia visível no céu azulado, só que curiosamente uma de suas pontas, a de baixo, parecia voltada justamente para a casa, caso pudéssemos tracejar uma linha entre ela e a Terra. O visual era sobrenatural ao extremo. Ainda hoje me pego olhando para nosso satélite natural, distraidamente, refazendo esta linha invisível, imaginando se no final de sua ponta (novos) estranhos fenômenos poderiam estar acontecendo novamente.

Após minutos angustiantes - que pareceram longas horas (principalmente para os irmãos no cativeiro macabro), a mãe dos garotos voltou de suas compras – primeiramente se perguntando sobre que algazarra era aquela. O portão foi aberto na seqüência, gritávamos tentando alertá-la para o que estava se assucedendo, destemidamente, a mulher seguia em frente, sem medo, nem ligando para os avisos – sorridente, perguntava aos filhos: “que história é esta?”. Só que desta vez o rádio não se modificou. Corremos para o muro e – pasmem – as flores tinham voltado! Dando (imediatamente) outro visual – bem melhor - para aquele (até então) tétrico lugar. E o quadro? Estático. Como se nunca tivesse “ganhado vida” momentos atrás. Boquiabertos, fomos nos debandando de volta a nossos afazeres diários, embasbacados com o que vimos – ou deixamos de ver. O polêmico assunto se esticou por dias, sempre que nossa rede de fofocas se formava. Apesar de não chegarmos a nenhuma conclusão razoável.

Com o tempo fui aprendendo que minha vil experiência fantasmagórica tinha outros pormenores. Pelo que sei, a ciência fala sobre casos parecidos, os tais “fenômenos ectoplasmaticos” muito citados pelo Padre Quevedo em suas desmistificações pelo mundo afora. Dizem que uma pessoa atormentada (quando bem jovem) pode projetar através de sua psique (presumidamente afetada) certas coisas, como combustão espontânea – que açoitam os que estão em sua volta – e a eles próprios. Inconscientemente, é claro. Independente de suas vontades. O que explicaria os vários casos de mansões mal-assombradas ainda mal-explicadas. Como na minha história. Vide os irmãos-problema. Trancados por causa da desconfiança. Tristes. Um tormento verídico, realmente. Sem sombra de dúvidas...

Um comentário:

Anônimo disse...

hááááá! os muleque encanados apavoraram a visinhanca inteira... pode cre... sorte de vcs q minha casa num ficava na sua rua... HU HU HU HAHAHAHAAA!!!